sábado, 24 de novembro de 2018

De Outra Vida, para Aqui




Foi há três anos.

De vez em quando gosto de lá ir, espreitar pela porta do postigo, como quem vê quem é e quem foi, onde esteve e onde está.

Olho-te. Emociono-me contigo. És mesmo uma miúda que aprendeu a ser forte!

Lembro-me do que trazia vestido, lembro me das horas - cerca das sete da tarde, era outono e era de noite escura. Cheguei atrasada. (30 anos atrasada até chegares a ti).

(Quer dizer... de vez em quando ainda te esqueces dos trabalhos de casa, levas recado na caderneta, vais até ao postigo e voltas a andar na linha)

Mesmo saindo do trilho tens iluminado as tuas sombras e feito por ti.

Trazias o vestido azul de balão, o cabelo preto como devia andar o teu pulmão - quando fumavas um cigarro a seguir ao outro em jejum pela noite fora.

Hoje, jejum só na caminhada e preto só o tinto - a tua qualidade de vida aumentou.

A maior disse-te "Andou num barco em mar alto e à deriva. Leva-se muita pancada, o que está aí é isso." - depois de ter perguntado se estava doente.

Tenho sido um marinheiro aplicado e governado o barco como nunca, até então.

No outro dia contava-lhe que tinha encontrado uma pessoa desse tempo de há três anos atrás, perguntou-me o que tinha sentido - disse-lhe que reconhecia como uma personagem que fez parte da história.

" Como se fosse de outra vida?"

- Sim, como se fosse de outra vida. Antes de chegar aqui.