Chegaste na primavera como uma flor, a um jardim em reconstrução.
Comuniquei aos meus jardineiros residentes a decisão de te receber. Eles, jardineiros de todos os canteiros não concordaram.
A minha jardineira especialista em ervas daninhas perguntou se havia limite à permanência da flor - disse-lhe que não - mesmo em reconstrução e depois da intempérie continuava a ser um jardim de portão escancarado.
Todos duvidaram. Disse-lhes que o jardim era meu e assumia o risco. A responsabilidade era minha e por isso também fui eu que colhi os frutos da estadia da flor.
Mais de dois anos a morar no jardim do meu coração.
A flor que perfumou todos os lugares dele, criou raízes e pétalas que sempre que necessárias curaram e expulsaram as ervas daninhas do medo e das crenças que até então obstavam a que o jardim crescesse livre.
A flor que ensinou muito o jardim a amar e a saber-se amado e a entender que o amor dos seus é sempre seguro - Aconteça o que acontecer. Ensinou que o jardim não precisa de ser perfeito pois mesmo que ele tenha silvas e mato para ser desbravado a flor não o abandona.
A flor M. deixou o jardim mais risonho, mais corajoso, mais bonito, mais arrumado, mais limpo, mais descomplicado, mais malcriado, mais livre e por isso muito muito mais feliz.
Esta flor M. está prestes a morar noutro lugar mas será sempre deste jardim.
O jardim terá uma vida inteira de gratidão e saudade da flor M. Mais só que é ainda mais pela sua estadia que é agora mais capaz de se reinventar longe da sua flor.